O FEMININO NAS ENTRELINHAS
O NÃO-TODO NO CORPO E NO TEXTO
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão sobre o feminino enquanto lógica psicanalítica, articulando-o à experiência da linguagem, da arte e da escrita. A partir dos ensinamentos de Freud e Lacan, destaca-se que o sujeito é constituído por um desejo que vem do Outro, sendo a linguagem o campo onde esse desejo se inscreve, mas também onde falha, confunde e cria. O feminino, compreendido por Lacan como não-todo, não se inscreve inteiramente na lógica fálica, escapando à representação universalizante e aproximando-se daquilo que, na psicanálise, se entende como a verdade: uma verdade que nunca se diz toda, mas que se borda. Na tensão entre o que falta e o que escapa, arte e escrita surgem como formas de contorno do real, possibilitando ao sujeito, especialmente na posição feminina, expressar o indizível. O texto investiga como a dimensão do feminino transborda na linguagem poética e artística, encarnando-se em palavras que não se limitam à literalidade, mas que carregam marcas de gozo e de enigma. Ao escrever, artistas e sujeitos em análise tocam um saber não sabido, restituindo à linguagem a sua potência criadora. Assim, o feminino não se restringe ao gênero, mas opera como uma posição de escuta, de invenção e de alteridade. É nas entrelinhas, no espaço entre palavra e silêncio, que o feminino escreve sua verdade parcial — uma escrita que não visa a completude, mas que insiste em existir.